domingo, 17 de março de 2019

NA PRÓPRIA PELE - O CASO STEFANO CUCCHI


O filme é uma bandeira social 


O filme italiano "Na própria Pele", disponível na plataforma Netflix, relata de forma bastante dramática a história de Stefano Cucchi, preso em 2009 por porte ilegal de drogas, um crime aparentemente comum, uma vez que ele se declara usuário e em tratamento. Stefano morre devido aos maus tratos causados pela violência policial.

Sua família, que não conseguiu vê-lo na prisão, toma a frente da batalha judicial em busca da verdade sobre o que teria acontecido com o filho e irmão durante os dias na prisão. É possível perceber a diferença entre o tratamento policial na Itália e no Brasil. No documentário, nota-se que há alguns policiais preocupados com o estado do jovem de 31 anos, que vai se agravando dia após dia, enquanto outros não se importam, assim como os médicos e o próprio advogado do Estado, que, a princípio, parece não se atentar para a forma como Stefano aparece no primeiro julgamento, repleto de nódoas e com duas costelas quebradas.

O filme é muito bem feito e envolve nossas emoções junto com o drama de Stefano, que quer ter uma vida comum e familiar, mas se depara com as injustiças perante um sistema todo moldado para que ele não consiga. Por outro lado, sua família sofre com ele e tenta colocá-lo, por meio do afeto, em uma condição melhor, mas, ao acreditar na justiça, percebem tardiamente que entregaram o filho à morte, mesmo que só tenha passado uma semana.


Imagem do documentário

A falta de confiança em todos torna Stefano alguém que aguarda que lhe apresentem um desfecho para a própria vida, já que ele não revela aos médicos e advogados quem o espancou. Segundo o documentário, a morte de Stefano foi causada por espancamento policial da "Arma dos Carabineiros" (ala da polícia italiana) em outubro de 2018. O caso teve uma reviravolta, já que alguns carabineiros assumiram a violência em uma espécie de ação combinada, deixando Stefano deformado - segundo o jornal El Pais.

Stefano foi encontrado magro, indicando desnutrição, com duas costelas quebradas e o rosto todo deformado, após ter passado uma semana na prisão suplicando que lhe dessem suas pastilhas para epilepsia. Sua irmã foi quem colocou o debate no topo das discussões mais controversas na Itália, quando assumiu a dependência química do irmão como uma questão de saúde pública e a brutalidade policial como algo a ser combatido e denunciado. Isso tornou o caso um exemplo para que não acontecesse mais.

Trata-se de um filme que é também uma bandeira social. Mesmo passando-se na Itália, não nos faltam casos em todas as sociedades de mortes e abusos em prisões. Vale ressaltar que o filme nos mostra a complexidade humana, onde nem tudo é bom ou ruim. Existiram pessoas preocupadas com Stefano, e mesmo após sua morte, alguns policiais denunciaram seus colegas por sentirem vergonha do que haviam feito. Como brasileira, é triste ver o filme de forma naturalizada, já que, segundo os dados divulgados entre 2014 e 2017, pelo menos 6.368 homens e mulheres morreram sob a custódia do Estado, seja por doenças que infestam as penitenciárias, homicídios ou suicídios - é a velha máxima que nos acostumamos, mas não deveríamos.

Sua irmã continua lutando por vítimas em situações como a de seu irmão e abriu uma associação sem fins lucrativos para divulgar e acompanhar os casos existentes na Itália e no mundo, demonstrando esta ferida aberta que as sociedades carregam com sua voracidade desumanizadora, cada vez mais difícil de ser controlada. Vale a pena assistir e refletir acerca deste caso e de muitos outros que conhecemos no Brasil, considerando que a cada dia, 4 pessoas morrem em prisões brasileiras.



Referência


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