sábado, 20 de maio de 2017

Fora Temer - Quem carregará o féretro?


Por Paulo Lima 





Acabou-se o governo Temer. O golpe parlamentar engasgou de morte a contrarrevolução, vítima de sua dieta predileta, dinheiro extorquido de capitalistas ou presenteado por estes aos caciques partidários por via de seus estafetas. Estes, por sua vez, operarão por intermédio dessa máxima expressão do valor, todas as operações vitais do corpo mercantil da política burguesa nativa. Corrupção para aprovar leis, ganhar cargos e licitações e um sem número de artimanhas e falcatruas seja com dinheiro público ou privado. De preferência, de longe, o público.
Flagrado em palavras condescendentes com o relato maroto dos crimes aos que se dedicava Joesley Batista, à noite, em sua residência no Jaburú, Temer, o esperto, foi gravado à sua revelia e ao que parece com conhecimento da PF. Fato inquestionável, letal. Um meteoro sobre a arte do traidor que realizava o trabalho sujo que o capital lhe incumbira: fazer passar as reformas retrogradantes do estatuto da venda da força de trabalho. Quanto às leis trabalhistas e leis de seguridade social. 
Desmoralizado, o Bloco 4B, a base parlamentar capitalista que traíra e sentenciara Dilma se vê na iminência de sentenciar com igual morte o traíra presidente, ainda que isso a enterre no atoleiro dessa tempestade amazônica, deixando-a a meio caminho do paraíso escravocrata que se abrira como única oportunidade histórica.
Se as Tabaranas parlamentares obrigam o Traíra a renunciar, despedem-se das reformas de seus maiores sonhos. Em troca, diminuem as lesões que nas eleições daqui a meio ano poderão estar cicatrizadas. Mantendo-o no poder, cercados no congresso e nas ruas, desmoralizados, entrarão aos pedaços no palco eleitoral, cheirando a cadáver.
Com bom desempenho nas eleições, poderão, quem sabe, recompor a sua esmagadora maioria atual, sua ditadura democrática. O odor, ao contrário, cadavérico afastará até os mais ingênuos e, sem dúvida, liquidará o retorno deste regime dos seus sonhos.
É justo que prefiram os nobres capitalistas parlamentares e sua classe, carregarem aos prantos o féretro suicidado e assim manterem a esperança de alegrias futuras, do que suportarem com asco a decomposição do cadáver desse peixe nada nobre e sepultarem em 2018 as mais simplórias esperanças. 
Eis o dilema da contrarrevolução. Apanhada em pleno voo por uma carga certeira de chumbo seis de uma Braecker calibre 12, do cano shok, cano esquerdo.


São Paulo, 18 de maio de 2017.

Publicado originalmente no site IELA



sábado, 13 de maio de 2017

13 de Maio: liberdade para quem?

Universidade Inclusiva é pouco para nós...


Quando as mulheres negras, por meio de diversos escapes, alçam e ocupam determinados espaços hegemonicamente brancos, como o espaço dos debates acadêmicos é sempre uma consternação entre todos. Primeiro porque não é comum protagonizarmos nada, nem mesmo as nossas ações no mundo podem ser relatadas por nós, somos sempre o objeto exótico do estudo alheio. Segundo, porque ocorre um desvelamento que produzimos conhecimento e queremos outra sociedade. Parece muita ousadia para àqueles que se acostumaram a retirar nossa humanidade.
E sim, nosso debate é marxista! E não poderia deixar de ser já que, acostumadas a sermos vilipendiadas e excluídas o tempo todo, só podemos pensar a sociedade a partir de outro projeto, entendendo que o sistema atual enraizado no racismo, no machismo que vivemos faz parte de uma razão político econômica. Para nós, grupos à margem, que só temos em comum a exclusão, a teoria só pode servir para construir outra sociedade. O posicionamento de classe é uma composição política e não apenas uma condição social.

Falar de cotas não é nem o início de uma discussão racial séria, portanto, não nos tratem como quantidades de seres apolíticos na composição da uma “esquerda”. Representação importa e muito! Mas não podemos achar que compor numericamente mesas com mulheres negras, indígenas ou seja lá qual falseamento da realidade usem para nos fragmentar, mudará nossa realidade concreta. Ao contrário, esta falsa representação nos incapacita de agir e de falar àquilo que ansiamos e nunca conseguimos, que é a mudança radical da sociedade. São violências múltiplas que nos unem, são múltiplas as contradições que nos atravessam, mas o capitalismo exerce sua força nos dividindo, estamos todos sob a mesma égide e o ciclo de dominação se fecha quando cada um começa a lutar por sua questão individualizada, seu sofrimento hierarquizado, em uma luta de todos contra todos à esquerda validando a eficácia do sistema capitalismo.




Em contrapartida, estamos entre (e do lado) os subalternos, os oprimidos, a nossa composição de classe que é heterogênea, mas conectada em suas opressões. Esta é a noção de interseccionalidade o “nó” do termo cunhado pela jurista afro americana Kimberlé Crenshaw (1989), todas as múltiplas violências sofridas se encontram, se sobrepõem e colocam a mulher negra na base desta pirâmide, daí a morte do seu pensamento, do seu posicionamento e dos seus corpos. Todavia, diluir a premissa de classe deturpa a nossa possibilidade de luta, somos negras, também trabalhadoras, também mulheres, também periféricas; somos diversas lutas de uma mesma classe com seus sofrimentos e suas especificidades, mas somos uma classe.
Logo, nossa luta antirracista e feminista é, em seu plano central, contra o capitalismo. Falar de desigualdade sem falar da exclusão de género e da questão racial é como não tocar na questão central da exclusão e compreender o individuo com sua consciência autónoma, uma volta ao hegelianismo, que teve seu contributo, mas que o filósofo alemão já contemplou e transpôs ao tocar na escravidão como uma das formas de exploração do capital.
Posto isto, estamos na Universidade, ela foi ocupada, bem como todos os outros espaços pelos quais passamos, contrariamos as estatísticas, mas não abandonaremos o nosso estatuto e tampouco a conexão com a totalidade.
Nos respeitem, porque nossos passos vêm de longe, somos Lélia Gonzalez, Jurema Wernerck, Angela Davis, Audre Lord, Crenshaw, Izildinha Baptista Nogueira, Cláudia Ferreira (que mulher negra foi morta e arrastada em via pública pela polícia carioca) somos também Alberto Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, José dos Santos, Chimamanda, Lígia Maria da Costa Cambraia, Lumumba, Marx, Lenín, Mariatégui, Darcy Ribeiro, as guerrilheiras nigerianas Nwanyeruwa e todos os que lutaram e lutam pelo fim do capitalismo. 

Elaine Santos 
Claudia Cambraia