terça-feira, 20 de novembro de 2018

Olha o sangue na mão - ê, José - 20 de Novembro


Olha o sangue na mão - ê, José[1]


Não escrevi este texto para falar de mim, embora também apareça por meio dele. Romper alguns ciclos não os excluí de mim e qualquer passo em falso pode me fazer retornar de onde nunca saí. José dos Santos, meu pai, homem negro e refém de sua história, oriundo de uma família branca composta por trabalhadores militantes, envergonhava-se emudecido por não conseguir reagir quando o racismo mal era discutido e sua condição rechaçada no seio familiar. Muitas coisas escondidas no recôndito de sua mente, nunca as verbalizou. Sua situação de aniquilamento foi naturalizada, viveu em um país que se orgulhava de sua “democracia racial”, mas que na prática reafirmava a exclusão em todos os âmbitos. Psiquicamente debilitado e invisibilizado no seu pequeno mundo social/familiar, teve como libertação a morte, sua luta foi vencer-se através dos filhos e das pequenas reclamações cotidianas reivindicando melhorias na sua seção no chão de fábrica, como era chamada a área de fabricação das peças metalúrgicas.








Música 









[1] Trecho da música Domingo no Parque de Gilberto Gil, que meu pai não gostava, mas cantava constantemente ao meu lado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Uma singela homenagem


Por estes dias faleceu a mãe de uma grande amiga, uma irmã de fato, a pessoa que sempre esteve ao meu lado em tempos tristes que já vivi, quando soube do adoecimento de sua mãe há dois meses atrás, escrevi este excerto. Sua mãe, era das muitas mulheres negras que conhecemos, criou quatro filhos sozinha e trabalhou durante anos como catadora, tal como Carolina - a nossa escritora. 
Agora, dado seu falecimento resolvi publicá-lo, uma singela homenagem, como diz o título.







São tristes os dias em que percebo que a vida passa para todos, sofri muito, mas lutei e esperava que a cada dia um dos meus pudesse ser poupado
Não aconteceu
Os dias correm
As pessoas se vão
Quem fica, vive o sofrimento da perda, demoramos a entender que ela é diária e nossos recursos cada vez menores, não materiais, mas também psíquicosemocionais.
Tudo nos engole e vamos tentando buscar uma luz em qualquer coisa, uma fagulha de vida, onde se existem cinzas. 





Elaine Santos