quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Desvendando o Balão Mágico: entre nostalgia, influência e reflexões geracionais

Eu não assisti ao documentário "A super fantástica história do balão" que conta a história do grupo musical infantil formado em 1982 Balão Mágico.

Não assisti ao documentário, infelizmente, porque não tenho acesso a todos os aplicativos que disponibilizam séries, filmes e documentários. No entanto, como parte de uma geração que se educou através da televisão na década de 90, movida pela curiosidade e pelo fato de já ter tido contato com as músicas do grupo infantil quando eles já eram adolescentes, fiquei curiosa e decidi procurar vídeos e artigos que discutissem o documentário.

Confesso que fiquei surpresa ao descobrir que um dos discos do Balão Mágico, mais especificamente o quarto álbum, trazia um brinde que consistia em um cheque de Cr$5 mil, incentivando as crianças a abrirem ou pensarem em abrir uma poupança na Caixa Econômica Federal, em 1985. Passei alguns minutos ponderando sobre a influência desse fato, algo que até então nunca havia pensado.


Fonte: wikipedia


Lembro que na época um tio meu acabou por abrir uma poupança para meu irmão, que ainda criança sequer pensava nisso, mas alguém tinha que cuidar do futuro dessa geração. Uma geração que agora, talvez, com o término dos anos ditatoriais, poderia finalmente vislumbrar um futuro.

Para o meu tio, um homem que vivenciou o período ditatorial e suas perseguições, a mensagem musical de um mundo colorido e incrível do Balão Mágico talvez fizesse mais sentido e trouxesse mais esperança do que para nós, crianças que crescemos entre a escassez e a expansão da produção industrial após os anos 90. Nesse sentido, discordo da visão apresentada por Huyssen (2004), que sugere que ao revivermos a memória afetiva através da televisão, retornamos a um local seguro da infância onde as preocupações da vida adulta não existiam. Isso não se aplicava a nós, pois de alguma forma já tínhamos que enfrentar as dificuldades da vida adulta, mesmo sendo ainda crianças, especialmente em meio à crise e à inflação daquela época. A memória da escassez ainda permanece em mim e posso dizer que moldou a minha forma de socialização. Por outro lado, reconheço que meu exemplo individual, embora tenha representatividade social, é apenas um caso que, do ponto de vista científico, poderíamos classificar como uma "evidência anedótica" interessante para reflexão, mas que não constitui um método e que nem é o objetivo deste texto.

Eu era praticamente um bebê naquela época e, portanto, não tenho lembrança desses acontecimentos. No entanto, achei interessante a reflexão feita pelo PH Santos, um youtuber que analisa séries, filmes e documentários e que comenta esta transposição histórica entre o mundo sombrio da ditadura o mundo colorido do Balão Mágico e de uma geração que agora poderia vislumbrar um horizonte.

De fato, naquele momento, estávamos emergindo da ditadura e havia a necessidade de construir um imaginário infantil para aquela geração, que seria o futuro de um Brasil que, embora não plenamente democrático, começava a mostrar indícios de... uma democracia restringida, para citar o Cueva. Isso era especialmente verdadeiro onde eu vivia, na periferia, onde a democracia era, e continua sendo, algo a ser construído no dia a dia.

Voltando ao Balão Mágico, aparentemente, a ideia de criar um grupo infantil surgiu como algo externo ou estrangeiro, que estava fazendo sucesso entre as crianças em outros lugares. E o seu retorno através de documentários neste momento também se relaciona com uma estratégia de engajar um público online, como foi bem discutido por Lessa & Junior (s.d.). Algo que voltarei a discutir em um próximo texto...

Elaine Santos

Referências

Huyssen, A., Moreira, S. V., & de Carvalho Moreno, C. A. (2004). Mídia e discursos da memória. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, 27(1).

Lessa, L. A., & Júnior, M. A. B. O retorno do Balão Mágico e a evocação de memórias na TV: um estudo sobre teleafetividade.