segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Alfange

Alfange
Neide Almeida


Não se cala uma mulher
com máscaras - nem de ferro, nem de flandres.
Sua verdade é lâmina afiada,
rompe todas as mordaças.

Não se cala uma mulher
com açoites, chicotes.
Sua indignação é veneno contra o feitor
bálsamo na carne dilacerada.

Não se cala uma mulher
com mãos e gritos de homens prepotentes
Sua palavra é lei, constituição
que denuncia e há de punir

Não se cala uma mulher
com golpes de botas, pau de arara ou palmatória.
Sua letra é fogo,
se inscreve na memória de todas nós.

máscara de flandres utilizada na escravidão.


Não se cala uma mulher
com a faca fria da indiferença
Sua presença é fortaleza
reinventada a cada geração.

Não se cala uma mulher
com voz de mando, em ilegítimos tribunais.
Somos muitas e, de cabeça erguida,
permaneceremos em desafio.

Não se cala uma mulher
com balas - nem de chumbo, nem de prata.
Seu silêncio verte-se em fúria, ventania
converte-se em poderosas tempestades.

Não se cala, uma mulher!

domingo, 21 de outubro de 2018

Dica de filme - Ele tem seus olhos.


O filme de produção francesa "Il a déjà tes yeux" ou "Ele tem seus olhos" é bastante interessante para analisarmos os diversos comportamentos de uma sociedade racista e xenófoba como é a francesa.

Realizado em 2017, quando um casal franco-africano resolve adotar uma criança e se deparam com uma criança branca, imediatamente a aceitam, já que a vontade que possuíam de ter um filho ultrapassa os limites da cor. 

Por outro vão ter que lidar com perseguições por parte do Serviço de Assistência Social que os considerará incapazes de lidar com uma criança branca e suas próprias famílias que hegemonicamente negras não querem ter um branco que ainda que criança simboliza ali o opressor ou a perda dos seus costumes e sua ancestralidade que também foi modificada a partir do momento que se tornam migrante vivendo na França. Logo há também aí um processo de aculturação e assimilação por parte de todos que são obrigados a se rever nos seus preconceitos diante o abandono da criança que precisa de uma família. 

Apesar da docilidade como o assunto é tratado, nada escapa nem mesmo os racismos direcionados as mulheres negras como se todas com filhos fossem babás ou criminosas que raptam crianças e ainda há real possibilidade, ainda que pequena, mas existente de um casal de pais negros terem um filho branco. 

é um bom filme e bastante leve para abordar diversos temas relacionados a sociologia e as mudanças atuais na forma como as famílias são formadas. 



segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Dia 15 de Outubro no Brasil é dia de luta dos professores.


No dia 15 de outubro em que se comemora o dia dos Professores brasileiros este blog impõe a realidade como urgente, logo. temos muito pouco o que comemorar. Após mais de dez anos dando aula de sociologia e geografia em diversos colégios públicos em São Paulo, cheguei a conclusão que tudo tem piorado e mais ainda na nossa realidade mais imediata. Já que para muitos dos alunos e alunas que ali estão a escola, dentro da sua precariedade. é o único espaço de convívio e sociabilidade. 

Em tempos que o Brasil parece caminhar de costas para o futuro, indo contra os valores democráticos mínimos, a educação deverá sofrer grandes ataques, afinal sabemos que o conhecimento por si é libertador. Acompanhamos os movimentos da escola sem partido, a perseguição ideológica a várias disciplinas consideradas "pensantes" como se ainda vivêssemos no positivismo da divisão das ciências em caixinhas nos cérebros.  

Quem conhece a realidade das escolas brasileiras, sabe das dificuldades em ensinar quando se falta tudo....é risivel ter que assistir um congresso conservador formado por uma elite grosseira querer impor aos outros, àqueles que nada têm, o vazio. Assim, nosso dia não é de comemoração, mas sim de luta e para apoiar esta reflexão deixo o podcast que fiz com outros dois lutadores, por mais educação e mais direitos.






sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Soul - Neide Almeida




Atravessada sou 
por mulheres que vieram
antes de mim
Suas sagas me perpassam
Assim fertilizo
o chão que piso descalça 

Iluminada sou
por senhoras que agora,
no inverno da vida
recontam percursos de infância ausentes
Estremeço como roupa 
ao vento no varal
e ocupo o ar
com aromas de água e sol




Liberta sou
pela força das mãos que, envelhecidas
brincam
com as marcas do tempo
como crianças que escavam
a umidade da terra
Moldo assim
meu próprio caminho
incerto destino

Banhada sou
por lágrimas 
contidas com olhos ardentes
de mulheres que, mesmo quando choram,
miram firme o horizonte
cerram os dentes em desafio
Lavo nos rios de suas palavras 
minha empáfia
e ressurjo outra 
no negror de minha 
própria pele. 






quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A Revolução da Burguesia brasileira.


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Diante do quadro político exposto de forma nevrálgica a burguesia dá uma resposta revolucionária, colocar o Brasil no século XIX é a revolução reacionária, como será? Não sabemos, mas certamente será rumo ao neopelourinho e à neocolônia. Os trabalhadores têm medo, muitas das pessoas com as quais venho conversando pelas redes sociais, na realidade e até em outros países, estão desmotivadas com a possibilidade da mudança. Infelizmente a esquerda no seu não trabalho embasou bem nossos inimigos, na sua perda de horizontes e principalmente no seu afastamento do trabalhador comum e na sua aproximação de uma classe média pífia, medíocre como diria o poeta uruguaio Benedetti referindo-se à classe média

meio rica, meio culta entre o que crê ser e o que é media uma distância meio grande
Do meio mira meio mal os neguinhos os ricos os sábios os loucos os pobres
Se escuta um Hitler gosta mais ou menos e se um Che fala também
Em meio ao nada meio que duvida como tudo a atrai (a meias) analisa até a metade todos os fatos e (meio confundida) sai às ruas com meia panela então meio que chega a se importar com os que mandam (meio nas sombras) às vezes, só às vezes, se dá conta (meio tarde) de que a usaram como peão em um xadrez que não compreende e que nunca a converte em Rainha Assim, meio raivosa se lamenta (a meias) de ser o meio do que outros comem dos quais não consegue entender nem a metade.

Esta classe média sabe que poucos dos seus vão morrer, vão ser torturados, estuprados e violentados, como já acontece na periferia. Algumas das vozes partidárias à esquerda, as habituais vozes, fazem piada com o atual momento, por vezes até nos chamam de burros, buscam saídas fora do país – sim, eles e elas podem pensar esta possibilidade – a barbárie bate primeiro em nós na periferia, jovens, mulheres, homens, gays que já morrem apenas pela sua existência em mundo que não nos quer. Nossa existência é uma audácia, uma afronta, e entraremos em breve na ressaca da incivilidade, onde nos colocaram? A palavra socialismo se tornou um fetiche e não uma utopia necessária a quem sofre, muitos até a excluíram da agenda, colocaram outros nomes que nada dizem quando há um vazio qualquer discurso resolutivo é mais assimilável a nós.
As vozes de esquerda, antes colada ao povo, as periferias, agora grita, mas não sabem como agir, conseguiram levar todos a descrença ou melhor, a crença que chegamos mesmo ao fim da história, já não podemos pensar outro mundo, outra forma de vida, apenas aceitar o que esta dado e tentar colocar um rosto menos pior na barbárie, uma  barbárie light. Enquanto isto a burguesia responde bem à crise, que não é isolada, ela é mundial e resvala no Brasil a partir da sua subordinação à metrópole, agora as grandes corporações controlam até as regras do jogo dentro do Estado, somos o paraíso da especulação financeira, somos o país que matou mais que na Guerra da Síria[1] durante o período de 2001 a 2015, momento em que estávamos sob um governo chamado à esquerda. Nos encontramos em um mosaico e há diversas opções abertas e não bastará uma visão crítica, mas um posicionamento muito bem definido, a burguesia está lúcida, aliás muito e vão nos retirar tudo. O velho sistema agoniza e já sabemos o novo que surgirá, todos e todas a serviço do sistema mercadológico fingindo uma falsa oposição, só nos restará a consciência que pagaremos com nossas vidas sempre comparadas a querelas insignificantes. Quem se incomoda com Babiy? Com o mecânico preso por engano Luis Felipe? Quem vai responder as mortes inclusive a de Marielle e Anderson? Quem se lembra da Cláudia Ferreira arrastada pela polícia? Onde está a família do adolescente Marcos garoto de 14 anos morto pela polícia? E todos os policiais que também morrem? Somos números para qualquer exibição e a nossa luta vai muito além do amor e do ódio ao PT, não há saída fácil e nos sabemos da nossa capacidade de grandes sacrifícios quando percebemos o que está em jogo, resta esclarecer antes de sermos fuzilados.