segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Dia 20 de novembro dia da consciência negra


Hoje é dia de luta, para os negros e negras do mundo todo dia o é...
mas também é um dia para lembrarmos das nossas conquistas e dos nossos lutadores que pavimentaram os caminhos para que seguíssemos. 


o faço de forma simbólica por meio deste video que resgata a história das mulheres negras lutadoras.



sábado, 11 de novembro de 2017

O cavalo de Tróia e a Misoginia


Fernanda Pimentel - Professora e Socióloga

Um dos elementos nucleares 
do patriarcado reside exatamente no 
controle da sexualidade feminina /.../ 
Heleieth Saffioti 


Uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 9, a PEC 181. No parecer, o relator defende o conceito de proteção da vida a partir da concepção. Na prática, pretende-se proibir o direito ao aborto em toda e qualquer situação. 

Exemplifico. Aquela criança com 9 anos de idade que foi estuprada pelo padrasto, ou aquela menina de 15 que foi estuprada pelo vizinho ou ainda aquela moça que pega o último ônibus e volta tarde da noite da faculdade ou do emprego e foi estuprada por um desconhecido num beco escuro, todas elas, se engravidarem, serão obrigadas a ter um filho resultado de uma violência.  Soa exagerado? Mas não é. 

Segundo o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 135 estupros por dia em 2016. De acordo com o Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), 70% das vítimas são crianças e adolescentes. Os números são alarmantes, mas não mostram a realidade por completo já que o crime é subnotificado, estima-se que somente 10 % dos casos cheguem ao conhecimento da polícia. 

O mesmo vale para os casos nos quais a mãe corre risco de vida ou quando o feto é anencéfalo. Proibição total do direito ao aborto. 

Espanta a manobra descarada feita pelos deputados para incluir a pauta do aborto em um PL sobre aumento da licença-maternidade para mães de prematuros. É aí que o Cavalo de Tróia mostra seu interior: a misoginia. 

Ao mesmo tempo, vem a indagação, parafraseando Saffioti, por que a Câmara dos Deputados não seria sexista? São, atualmente, 45 deputadas contra 468 homens. Na comissão da PEC 181, foram 18 votos masculinos a favor e 1 voto feminino contra. Sintomático.

O patriarcado ou ordem patriarcal de gênero é demasiadamente forte, atravessando todas as instituições, como já se afirmou. Isto posto, por que a Justiça não seria sexista? Por que ela deixaria de proteger o status quo, se aos operadores homens do Direito isto seria trabalhar contra seus próprios privilégios?”. (Heleieth Saffioti, Gênero, Patriarcado e Violência.

Também é preocupante a forma como a discussão sobre aborto vem sendo pautada no Brasil. Em boa parte orientada por preceitos religiosos que deveriam ser escolhas individuais e não impostos, na forma da lei, a toda uma população. 

Falar sobre o assunto partindo do pressuposto de que a vida começa a partir da concepção é uma armadilha perversa, um engodo para atrair inocentes e fanáticos que corroborem posturas reacionárias. Tal pressuposto retira do debate toda a sua dimensão social, além de reafirmar, de maneira torpe, a naturalização da maternidade. Sobre a possibilidade de escolha da maternidade como um fundamento da liberdade das mulheres, Saffioti afirma:

"Resta à sociedade a possibilidade de enclausurar a mulher em situações nas quais a única saída seja a maternidade e, deste modo, induzi-la a conceber carne para canhão, como fez o nazismo. Ao tornar o papel reprodutivo da mulher um substituto de seu papel produtivo, a sociedade potencia a determinação sexo, distanciando, na esfera social, a mulher do homem. Eis por que a liberdade feminina está estreitamente ligada à possibilidade de a mulher aceitar ou rejeitar livremente a maternidade." ( A mulher na sociedade de classes: Mito e Realidade.) 

A discussão sobre aborto, ao contrário do que propaga a bancada evangélica, deve necessariamente ser fundamentada pelo contexto histórico e social concernente à vida das mulheres no Brasil. 

Para tanto, fundamental é considerar as consequências da criminalização. Números da Organização Mundial da Saúde mostram que a cada dois dias 1 mulher morre vítima das complicações de aborto clandestino no país e mais de 1 milhão de mulheres se submetem a abortos clandestinos anualmente. 

Diante desse quadro, outro fator crucial é considerar a ineficácia da proibição. Dados da Pesquisa Nacional de Aborto mostram que, em 2010, 1 em cada 5 mulheres entre 18 e 39 anos já recorreu a pelo menos 1 aborto na vida. Você, com certeza, conhece uma dessas mulheres, são mães, irmãs, trabalhadoras, mulheres que estão entre nós todos os dias. 

A proibição do aborto é eficaz em matar mulheres. O movimento feminista está associando a PEC 181 ao Cavalo de Tróia. Sorrateiro e perverso, o suposto benefício traz em si o completo menosprezo pelas mulheres e o peso de sua subjugação ao patriarcado. 

Legalizar o aborto é defender a vida.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Coisa de branco, até quando?

Escroto, consciente, ativo, legitimado, estrutural, septicêmico em todos os órgãos da nação, o racismo de William Waack não é só dele. Essa é a pior notícia. “Coisa de preto” é subtexto corrente na mente de grande parte de uma sociedade criada sob os parâmetros da Casa Grande. O diabólico plano que começou com tráfico, tortura e assassinato do povo negro e que durou quatrocentos anos, é mais nefasto e homicida do que os cinco ou seis anos do holocausto judeu e essa dor a humanidade respeita mais. Não estou dizendo que uma dor é menor do que a outra. Mas afirmo que o holocausto da escravidão negra continua até hoje e não comove nossa sociedade. Não importa, em geral, a quantidade de negros sem nome, sem sobrenome nobre que é assassinada diuturnamente nas favelas e periferias deste país. Ainda rola no imaginário brasileiro a ideia obsoleta de que “preto bom é o de alma branca”, é o sem voz, e há neste imaginário uma desvalorização da etnia negra como se houvesse para isso alguma defesa científica que apontasse no DNA de uma raça sua propensão à sub-humanidade.
O que impressiona muito no vídeo do William é sua falta de conflito com o tema, 
seu conforto escancarado e muito bem acomodado dentro de sua convicção.
Quando a Globo que, felizmente, com muita rapidez, prontamente se posicionou repudiando e afastando o jornalista, afirma que vai pedir esclarecimentos dos fatos dá vontade de ser uma mosquinha na cabeça deste profissional para ver qual será o melhor argumento nos bastidores dessa saída. A situação é indefensável. Não falou sem querer, não estava nervoso. Repito: trata-se de uma convicção. Absolutamente consciente e levemente temeroso de que sua fala pudesse comprometê-lo, ele, textualmente, quase evita falar abertamente: “Tá buzinando por quê? Ô seu merda do cacete! Deve ser um… Não vou nem falar quem. Eu sei quem é… Você sabe quem é né?”
Mas não resistiu. Saiu. 
Pulou da boca. Pensa assim.
Concorda com o racismo. É porta-voz dele.
Estamos diante de um vazamento e por ele podemos supor quantas dessas atitudes não chegam a público e fazem a graça de muitos bastidores. Não seria leviano de minha parte afirmar que essa não é uma atitude isolada deste jornalista. Um detector de discriminação racial afinado talvez não tivesse dificuldade em encontrar na educação, dele e de sua família, a ideologia revelada no patético vídeo gravado em frente à Casa Branca. Ele estava nos Estados Unidos, ele falava português, ele estava em seu “camarim” e não imaginou que a máscara Waack estava sendo retirada antes do público deixar o teatro. Sou atriz, vivo no teatro, e sei que se o público por algum motivo avista o truque, a ponta da carta escondida sob o manto do mágico, não há outra saída para o artista se não se render à verdade. Já era. O público viu. Fodeu. É melhor admitir. Flagrantes são inegáveis. Qualquer tentativa de desqualificar a verdade flagrante é constrangedoramente impotente.
O que está em jogo aqui é como deter o escravagismo moderno, esse que foi trazido através da linguagem das escrotíssimas expressões que destroem a autoestima do povo negro a cada minuto, e que vão mantendo a obra da escravidão na cabeça de jovens brancos, de crianças brancas, em pleno 2017. A semente do mal é reproduzida em todos os lugares, inclusive nos jornalismos, inclusive nas ficções.
Sou jornalista também de formação, 
e sei da responsabilidade pública que temos com a informação,
sei do poder de influência da palavra jornalística na formação de opiniões. 
Diante disso numa democracia, ter um jornalista que apresenta um jornal importante numa emissora que alcança milhões de espectadores diariamente, defendendo posturas racistas, expondo-se inclusive judicialmente a um processo, aponta para uma demissão sumária deste profissional. Não vejo outra saída. Para mim é tão grave quanto um médico que não atende um paciente preto e pobre na emergência. Para William Waack a vida do preto, o pensamento do preto, a atitude do preto, os direitos do preto são menores e tudo nele vale menos. Está entranhado em seu DNA cultural branco e dominador tal aberração intelectual.
Sua ignorância é sofisticadamente tosca,
uma vez que ocupa um cargo nobre na tele informação.
E essa ignorância é tão sofisticada quanto perniciosa, representa um pensamento vigente que raramente tem coragem de mostrar a cara, de sair do armário. Mas é este pensamento que gera a atitude prática de fechar portas, e de provocar em nós, em nossas organizações civis e nas leis, a feliz estratégia dos sistemas de cotas. Quando Cazuza diz que a burguesia fede é a isso que ele se refere. Há uma hipocrisia católica, disfarçada de caridosa, ornada dos aparentes bons costumes, mas que chafurda na lama tóxica de seus preconceitos e na sua luta pela preservação das senzalas, dos quartos de despejos e da persistência variada das chibatas. Presídios, quartos de empregadas, entulhos das favelas e periferias, tudo têm como modelo os porões da escravidão.
Eu teria vergonha de ensinar racismo aos meus filhos,
William não tem.
Eu teria vergonha de ser racista em meu local de trabalho, William não tem. Eu teria vergonha de ser racista sendo brasileira e estando trabalhando em terras estrangeiras, William não tem. De usar a minha língua contra o povo que construiu a minha nação, William não tem. E por isso representa uma vergonha para o povo brasileiro. Sua declaração bate na cara dos negros que labutam para o sucesso da história desse país e da empresa que ele trabalha; sua declaração é um acinte, um achincalhe no talento de grandes atores negros que deram e dão sua arte à teledramaturgia brasileira contribuindo para um sucesso de público que atravessa décadas. Sua declaração atinge também em cheio a consciência de brancos a quem ele não representa, os constrange, os convoca a limpar a própria barra.
Puni-lo com uma demissão me parece uma atitude equivalente ao crime.
Condiz.
Sua opinião provoca um grande estrago e põe o dedo numa chaga acesa. Se ele trabalha numa empresa que não apoia o racismo, o seu flagrante delito o torna naturalmente afastado da emissora. Se a Rede Globo não quer compactuar com uma atitude discriminatória não pode ter em seus quadros quem pensa diferente disso, uma vez que tal quesito está espargido em todos os conteúdos de sua programação. Neste momento, estou fazendo a campanha da ONU chamada Vidas Negras.
Os números são alarmantes, 
perdemos grandes exércitos de meninos que saem da escola para o crime 
e, entre estes, 
milhares são assassinados sendo inocentes, 
só por serem negros. 
E só. 
Por valerem menos.
Mas a tragédia só se realiza, só chega a virar sangue, a virar tiro de fuzil, só chega a matar depois de se consolidar na mente de muita gente, e muita gente que manda neste país. É este jogo que nós temos que desmontar. Quando se diz “coisa de preto” como sinônimo de inferior ou ruim, no fundo estamos produzindo um conteúdo que dará autorização para matar. William Waack não é o único a pensar assim, é isso que o vídeo veio nos revelar. É coisa de branco e aos bons brancos deve envergonhar. O assunto está bombando. A questão racial no novo filme de Daniela Thomas vai ser assunto nessa sexta no Pedro Bial. Não dá mais pra segurar.
O mundo pede abolicionistas modernos e quer saber de que lado você está.

Artigo originalmente publicado pelos jornalistas livres 

domingo, 5 de novembro de 2017

Lembrai do 5 de novembro



Para além do inicio do Exame Nacional do Ensino Médio 5 de novembro também é a data lembrada no empolgante filme V de Vingança que conta a história do Guy Fawkes que tentou assassinar o Rei Jaime I e explodir o parlamento inglês