sábado, 24 de junho de 2017

Como pensar o mundo de forma monomaníaca.

Olavo de Carvalho – Entrevista Brasil Paralelo – Parte I
Como pensar o mundo de forma monomaníaca.Um homem ressentido e digno de pena.




Por insistência dos meus alunos que já estão na Universidade, fui assistir o vídeo do senhor Olavo de Carvalho, filosofo, astrólogo, católico e também Professor que já não vive no Brasil há décadas. Acreditava eu que ele era mesmo um filosofo, respeitoso de grande eloquência, uma decepção humana e uma confusão de ideias sem qualquer fundamento. A principio achei que veria uma palestra de filosofia minimamente séria e respeitosa, mas não, o que eu vi foi um senhor bastante caquético enveredando a ciência, a bíblia a religião e uma confusão de ideias sem fim. Usa termos de baixo calão para invalidar as pessoas, o que a meu ver, é bastante desrespeitoso se mostra racista e incapaz de conviver com ideias diferentes do que ele entende como VERDADE.

Ele é anticomunista, tudo bem compreensível, ele tem o direito de defender o que quiser, o problema está na forma como este senhor faz isto, ele transfere a história para fatos completamente sem nexo com a história, não se percebe com sua fundamentação teórica. Qualquer autor mencionado seria considerado ofensivo, porque mesmo Weber, Goethe e o próprio Balzac mencionado em sua bibliografia são clássicos respeitados no mundo e o senhor trata como mera figurinha de quinta categoria. Ele está muito abaixo dos autores liberais sérios, que pena o liberalismo é interessantíssimo de ser compreendido e mesmo no meio acadêmico não há um caso de alguém que tenha se inspirado no senhor Olavo como referência principal. Qual sua produção e continuidade intelectual? O que ele pretende é falar mar do PT, do comunismo, do Lula e da Dilma, esculhambando e despertando o ódio nas pessoas não há argumentação, somente ofensas.

  •  Ditadura comunista? Ele cria fatos históricos e não cita as fontes bibliográficas.
  • Aborto – zoológico humano, é uma questão de saúde pública, muitos países já possuem o aborto legal e tudo corre normalmente. Compara com o homicídio o que não faz o menor sentido, considerando o direito da mulher sobre seu próprio corpo e a responsabilidade diante a gestação e criação de uma criança (casos estupro, abusos sexuais parentais).
  • O homem humano é social, isto é ciência e não divindade. Como um filósofo pode ser alguém religioso, contradição impensável. Ciência e fé são coisas distintas.
  • Comer galinha é o holocausto? Completamente sem fundamento quando há pessoas que não tem o que comer.
  • Não tem nenhuma implantação do aborto a força como diz o senhor que está acontecendo no mundo, em Portugal mesmo faz décadas que o aborto é legalizado, a sociedade nem discute mais este assunto é ultrapassados
  • Grupo da esquerda eram o Brasil desde sempre? Isto nunca existiu...até porque ele era do PCB devia ao menos relatar de forma mais realista o que houve, até porque até hoje não sabemos onde foram parar algumas pessoas.
  • Diz ele que os livros de história no Brasil são todos de esquerda. Os livros da história nem falam da esquerda, houve até uma lei de obrigatoriedade que tratasse do ensino da África (lei 10639) e nunca foi integralmente cumprida. (?)
  • Peça de teatro sobre a independência? Escravatura, a primeira análise do Brasil enquanto nação foi pensada por um senhor chamado Gilberto Freire em seu livro casa grande e senzala que eu nem concordo muito, mas existiu é um clássico e ele diz que nunca foi feito, como isso?
  • O senhor que diz a mídia em 64 era comunista e esquece que a própria Rede Globo admitiu seu envolvimento na ditadura. 
     Um dia lerei o livro apenas para ver se na escrita ele usa os mesmos jargões - procriação, dar, comer, comer a vizinha, espermatozóide no saco - fiquei com vergonha alheia desta filosofia tão requintada. 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Saltos Quânticos e saltos ontológicos.



Este texto é parte de uma dívida grandiosa que tenho com meus amigos, uma vez que somos parte daquilo que nos rodeia. Resolvi redigi-lo a partir da proximidade e do agradecimento que tenho a duas pessoas muitos especiais Dete, amiga de infância, na época do pré-vestibular, me recordo como se fosse hoje, ela não sabia bem o que fazer, já que trabalhávamos e fazer uma faculdade nunca foi uma questão a ser pensada com a seriedade devida. Estudou, tornou-se física nuclear, um orgulho para mim. Mulher, periférica e física, isto não é pouca coisa. No meu entender, a partir das nossas dificuldades concretas da periferia em sua luta pelos estudo, valoro-a como se fosse o Einstein do nosso bairro.  A outra amiga fundamental desta escrita é Aline Leme, amiga do bairro, do lugar periférico, com os mesmos vícios que nos atravessam na Cidade São Jorge, estudou na Universidade Pública mais elitista de São Paulo, um esforço hercúleo, desde a distância até a sua permanência de pertencimento no lugar que nunca foi nosso. Ela é a pessoa mais apaixonada pelas fórmulas que conheço. Como poucos, consegue sonhar por meio de números e transformar sua paixão em aulas de matemática que são espetáculos, como merece o nosso povo. Ela é matemática, mas para mim compara-se a Max Planck, o físico, um pilar na física do século XX. Planck, que ao calcular o campo elétrico no interior de uma caixa quente, destoou de tudo que se conhecia na época, quando a energia era tratada de maneira contínua, estranhavam a visão de Planck na concepção da energia como pequenos tijolos (Rovelli, 2016:20). Aline é como Planck, alguém que destoa do seu pequeno mundo, entretanto, quer crescer e é Einstein que vai, cinco anos depois da hipótese de Planck, comprovar os “pacotes de energia” escrevendo considerar que a energia de um raio de luz não se distribui de maneira contínua no espaço, mas consiste em um número finito ‘quantos de energia’ que se movem, não se dividem e são produzidos e absorvidos como unidades singulares (Rovelli, 2016, 21). Na mecânica quântica nenhuma partícula tem uma posição definida, a não ser quando colide com algo quando acontece a colisão não é possível prever seus saltos são ao acaso, há probabilidades, porém não uma certeza e a incerteza está no coração da física (Rovelli, 2016: 24). Para nós faz muito sentido transpor as incertezas da física e a nossa colisão com o mundo que vivíamos e que vivemos, nos rebelamos desde cedo, ainda o fazemos e somos improváveis em nossos caminhos. Recorremos a coragem de ocupar o não ocupado, de pensar o não pensado e de voltar ao nosso estatuto sempre com o orgulho devoluto ao nosso povo.
São estes dois pilares, Aline e Dete, que me colocaram no caminho dos números e das Ciências Naturais. Como socióloga, sempre gostei, mas pude ir além, nos sonhos atravessados das amigas de infância, ir buscar as fórmulas, suas deduções, enquanto que alguns estranham até hoje minha paixão pela física, parte deste amor agora se explica. Somos seres sociais, são os amigos que nos talham e a ciência nos revela como compreender melhor o mundo indicando a imensidão que ainda desconhecemos. O conhecimento é nossa busca insana, capaz de nos dar outras possibilidades de mundo e de vida ... A medida que nosso conhecimento cresceu, fomos aprendendo cada vez mais esta noção de sermos parte, e pequena parte, do universo (Rovelli,2016: 75). E segundo os grandes físicos o presente é algo que escoa, ele não é comum a toda a gente, então registrar é um ato de existência. Até o fim de o desejo de entender sempre mais... (Rovelli, 2016:27)
Planck e Einstein

Posto isto, resolvi ler Sete Breves Lições de Física como uma tentativa de buscar livros acessíveis para os alunos, aos jovens, aqueles também apaixonados pelos números, mas que encontram poucos referenciais. O livro é ótimo, didático e adentra conosco lentamente a conhecer as dúvidas entre os cientistas mais renomados seu tempo entre o pensar e o agir, alguns encarados inicialmente como tolos e que muitas vezes tiveram que retroceder e recuar no seu ideário inicial. O pensamento cientifico é nutrido pela capacidade de ver além, ‘diferente’ e não simplesmente dá mera reprodução do mesmo, como uma fotografia que revela o instantâneo, mas sim a percepção do que não é visível na imediaticidade, aquilo que não aparece aos olhares pouco sensíveis. A contradição entre Einstein e Planck que que são as duas vozes infindas do século XX; a relatividade geral e a mecânica quântica duas formas diferentes de ver o universo, o mundo é um espaço curvo onde tudo é contínuo, o mundo é um espaço plano onde pululam quantas de energia e a ciência se torna cada vez mais majestosa porque se encontra frente a dois conceitos geniais e se pode pensar a partir dos caminhos já traçados e abandonados se esforçando reunir a inspiração quando ainda existe bruma e podemos interagir com todas estas variáveis para pensar o novo (Rovelli, 2016:50).Nós, na periferia, somos como eléctrons em nossos lugares, as vezes saltamos e nos transformamos em  átomos deixando um legado para que outros nos sigam.  
 

Este texto foi baseado no Livro Sete Breves Lições de Física - Carlo Rovelli, 2016. Editora Objetiva.