terça-feira, 20 de novembro de 2018

Olha o sangue na mão - ê, José - 20 de Novembro


Olha o sangue na mão - ê, José[1]


Não escrevi este texto para falar de mim, embora também apareça por meio dele. Romper alguns ciclos não os excluí de mim e qualquer passo em falso pode me fazer retornar de onde nunca saí. José dos Santos, meu pai, homem negro e refém de sua história, oriundo de uma família branca composta por trabalhadores militantes, envergonhava-se emudecido por não conseguir reagir quando o racismo mal era discutido e sua condição rechaçada no seio familiar. Muitas coisas escondidas no recôndito de sua mente, nunca as verbalizou. Sua situação de aniquilamento foi naturalizada, viveu em um país que se orgulhava de sua “democracia racial”, mas que na prática reafirmava a exclusão em todos os âmbitos. Psiquicamente debilitado e invisibilizado no seu pequeno mundo social/familiar, teve como libertação a morte, sua luta foi vencer-se através dos filhos e das pequenas reclamações cotidianas reivindicando melhorias na sua seção no chão de fábrica, como era chamada a área de fabricação das peças metalúrgicas.








Música 









[1] Trecho da música Domingo no Parque de Gilberto Gil, que meu pai não gostava, mas cantava constantemente ao meu lado.

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