quarta-feira, 8 de março de 2017

Maria José dos Santos Stein – Uma operária feminista


No dia 08 de Março relembro a história de uma grande mulher lutadora que inspirou e inspira muitas outras.






Maria José dos Santos Stein, minha tia, carrega o nome de um hospital em Santo André (SP), conhecida por sua solidariedade participava ativamente da política por meio da Juventude Operária Católica juntamente com seu companheiro Elias Stein. Começou a trabalhar aos 14 anos em uma tecelagem, quando teve contato com as dificuldades das mulheres, logo ingressou na JOC (Juventude Operária e Católica) onde participava das reuniões e confraternizações.
Nascida em Garça, chegou à Santo André ainda menina, carregando consigo uma carga nada leve, a história de uma família militante, Salvador dos Santos seu pai, que numa época dura, abrigava presos políticos em sua casa. A vitalidade de Maria José foi levada a cabo nos desafios da luta pela saúde pública sempre ligada ao movimento operário e de mulheres como liderança da Fé-minina Movimento de Mulheres de Santo André e Movimento de Saúde, relatou no livro As Operárias do ABC

Fui descobrindo porque eu era revoltada, o que realmente a fabrica tinha tirado de mim. Tinha tirado a possibilidade de me realizar. Mas que não era só. A minha descoberta foi a seguinte: que não era só de mim que ela tinha tirado, mas que era de todos os meus companheiros e companheiras (In GARCIA, IVETE, 2007, p.43).

Em conversa com sua filha Laura dos Santos Stein, rememoramos essa data a partir da experiência de nossa família que foi para nós uma inspiração. Diz ela que demorou a entender àquela mãe que nunca estava em casa, mas que quando compreendeu sua ausência passou a ter certeza que teve muita sorte nesse encontro familiar. Ainda me recordo da Tia Maria me dando conselhos e mimos, aos domingos, quando íamos à sua casa.
Sua ausência familiar se dava a partir da doação ao outro e a luta por um mundo melhor, o sonho de um SUS (Sistema único de Saúde) humanizado para que as mulheres tivessem mais direitos, conversava com as coletoras de papelão para que montassem uma cooperativa...tantas coisas, tantas lutas. Relembramos...
Mesmo aos 60 anos e cansada, Maria José saía cedo para pegar o ónibus para o trabalho e voltava tarde da noite, dizendo “hoje teve reunião do fé-minina, hoje teve orçamento participativo, hoje tem reunião da comissão da saúde” Ela subia o morro, em todos os sentidos e nos carregou juntas. Nos 80 e 90 sua luta em conjunto com outras mulheres por um sistema de saúde humanizado lhe concedeu a homenagem de levar o nome do hospital, que, fundado em agosto de 2008, Maria José não teve tempo para ver tamanha homenagem.
No seu velório, em 2005, apareceram todos estes sentimentos plantados em cada uma das pessoas que teve contato com ela, chegavam muitas coroas e a Prefeitura de Santo André disponibilizou uma carrinha para levar tantas flores e homenagens recebidas. Apesar da vida, na sua dialética que nos aproxima e nos distancia, o que sentimos hoje é a gratidão por ter nascido em uma família que nos deu valores humanos tão raros e que também suscita nossa atuação nesse mundo carente de lutas e de lucidez. 

10 comentários:

  1. Minha madrinha e uma grande inspiração. Valeu pelo perfil, recordo ela bem assim, e sempre sorrindo.

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  2. Muito lindo Elaine!!! Lendo, relembro, me emociono, me orgulho e tenho ainda mais convicção! "Ninguém solta a mão de ninguém" ê uma frase que diz muito e simboliza o que acredito!

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  3. Tive curiosidade e cheguei até aqui, gostei de saber quem foi Maria José dos Santos Stein!
    Neste momento eu Rosival estou dentro deste hospital com minha esposa Jaqueline esperando meu filho Kallel nascer!

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  4. Olá Rosival que bonita mensagem para receber em tempos tão difíceis, alegrou meu dia. Espero que tudo corra bem no nascimento do seu filho Kallel que consigamos um mundo melhor para ele viver..abraços para toda família.

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  5. Eu Maria Helena me orgulho de ser prima dessa mulher que sempre admiramos e aprendemos a entender sobre política. Me lembro quando eu levava marmita pra ela na Fiação Vitoria, saudades!

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  6. Gostaria muito de adquirir o livro As operárias do ABC. Como proceder?

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    1. Olá! O livro As operárias do ABC só esta disponível no site de livros usados "Estante Virtual" deixo aqui o link da dissertação que embasou o livro, espero que lhe seja útil

      https://www.uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/arquivo/410

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  7. que mulher admirável...me emocionou...

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