quinta-feira, 27 de abril de 2017

CARTA DE ALERTA E DENÚNCIA - INQUISIÇÃO NO CENTRO PAULO SOUZA


Aos amigos e colegas,

Criou-se no Centro Paula Souza um santo tribunal da inquisição contra os professores pesquisadores em tempo integral. Mais de 50 colegas já foram desligados dele e, consequentemente do trabalho de pesquisa, sob as mais diferentes e esdrúxulas alegações. A cada reunião da Comissão Permanente do Regime de Jornada Integral (CPRJI) ha mais uma rodada de cortes. Instalou-se o terror. 

O absolutismo burocrático que de há muito impera incólume no Centro proclama ser a pesquisa institucionalmente válida somente aquela vinculada aos interesses empresariais dentro da vertente da autodenominada ‘inovação’. Ali a ciência é concebida como dependência cativa de sua ideologia liberal, ao exigir-lhe atributo ‘inovativo’, ao passo que o capitalismo brasileiro sob o seu comando desindustrializa sistematicamente a nação. 

A burocracia imperante está de fato mascarando o real sentido politico de sua ação, promovendo a caça aos diferentes e dissidentes supostamente em nome de seus mais sinceros e puros desejos práticos de zelo pela ciência e pelo orçamento público. Entretanto o número de agraciados com o Regime de Jornada Integral para pesquisa é irrelevante no cômputo geral dos professores, de onde seu peso no orçamento da instituição ser irrisório. E nem mesmo temos representantes dos pesquisadores democraticamente eleitos na Comissão Permanente da Jornada Integral.



Sendo o CPS o maior complexo latino-americano de educação tecnológica de 2º e 3º graus, poderia ser ele, como resultado da revolução microeletrônica da qual emergiu o quarto órgão da maquina, uma das vanguardas no processo da automação. Isso nem de longe se cogita ou passa pelas atribuições do Centro. Caso este se pautasse por esse objetivo estratégico, a ciência e seu corpo de pesquisadores deveriam estar indissoluvelmente ligados àquele objetivo e necessariamente a ciência tomaria seu caráter universal, caminharia pelas múltiplas facetas do real. As funções de ensino, pesquisa e extensão deveriam se universalizar a todo o corpo docente, assim como este deveria trabalhar em regime de jornada integral e não ser como agora é, um corpo de professores horistas, do qual se pode subtrair, a qualquer um de seus membros e a qualquer momento e sob suposta razão técnica, a sua condição de pesquisador. 

Na verdade estamos diante de mais um passo de restrição política dos pesquisadores comprometidos com a ciência e, naturalmente contrários aos cânones metafísicos das ideologias gerenciais e abertos ao estudo da extrema complexidade do capitalismo contemporâneo a expor sua reprodução mundial conflagrada sob a forma de catástrofe em processo. 

Estamos sendo, assim, alienados de nossa condição de professores concursados, de cientistas e pesquisadores do ensino público paulista. Sendo isso uma violência privada contra o interesse público, seremos através dela alienados de parte substantiva de nossos salários, pois expulsos de nossas 40 horas (condição do regime de tempo integral) e desterrados ao território exclusivo da docência horista.

Apelamos à comunidade científica para apoiar-nos em nossa demanda pela defesa do ensino público, gratuito e de qualidade, pela realização da ciência sem peias conservadoras e pela representação democrática dos pesquisadores do Centro Paula Souza nas instâncias de formulação e decisão sobre as políticas de pesquisa, ensino e extensão, assim como nos órgãos de avaliação destas. 
Igualmente, pedimos denunciarem a caça aos pesquisadores científicos do Centro Paula Souza, a reversão das cassações e a universalização da pesquisa científica e do tempo integral, sua equiparação ao estatuto dos professores vigente nas universidades públicas brasileiras.

Mococa, 28 de abril de 2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário