Meu pai era são-paulino fervoroso. Quando faleceu, levou consigo nossas camisas do São Paulo. Ele sempre fez questão de presentear a mim e aos meus irmãos com camisas do São Paulo quando éramos crianças. Tenho ainda comigo as lembranças dele me acordando de madrugada para assistirmos à final do mundial em Tóquio. Foi um momento marcante em nossa história.
Sempre considerei o São Paulo FC como parte importante da nossa história familiar. Quando perdi meus pais anos atrás, assistir aos jogos tornou-se uma forma de reviver as memórias que agora só existem em nossa mente.
Como socióloga e já adulta, comecei a analisar a história do meu pai, um homem negro e metalúrgico do ABC, e sua paixão pelo São Paulo FC. Isso se tornou uma maneira de juntar os pedaços da minha própria identidade após a sua morte.
Nesse processo, me deparei em pensamento com a famosa frase de Muricy Ramalho: "Aqui é trabalho, meu filho!" Essa expressão era repetida por nós em família para enfatizar que tudo o que tínhamos, embora não fosse muito, derivava do trabalho árduo. De maneira inconsciente, sabíamos que o trabalho e o esforço eram os pilares de nossa vida social, seja na política, no cotidiano ou no esporte. Tal como Lukács, Muricy e meu pai reproduziram em seus exemplos aquilo que define a forma própria do ser humano, o trabalho. Através de sua ação intencional e coletiva
Assim como Muricy Ramalho, meu pai e a maioria da população brasileira entendem, mesmo que de forma inconsciente, que o trabalho, o esforço e a disciplina são fundamentais em todas as esferas da vida social.