Este texto é parte da primeira sessão da
CIT[1]
realizada no dia 20 de outubro de 2016 Esta iniciativa antecipa os 100 anos da
Organização Internacional dos trabalhadores em 2019 a partir da apresentação do
relatório “O futuro do trabalho” elaborado
por Guy Rider[2]. A
simulação pretende colocar os estudantes, enquadrados no formato que é próprio da
OIT - ou seja, do sistema tripartido, que reúne os representantes do governo,
dos empregadores e dos trabalhadores – a pensar o futuro do trabalho, através
dos temas; do pleno emprego, novas tecnologias, novas formas de desigualdade, o
futuro das relações de trabalho.
Este texto objetiva perceber o funcionamento
da OIT e o tratamento dado pelos participantes da simulação a este órgão
representativo. Como Presidente eleita para auxiliar na condução deste processo
escreverei a cada sessão. Intentando recuperar à lucidez histórica desaparecida
para aqueles que se mantem estancados em cargos de poder ou em salas de
pesquisa.
A Faculdade de Economia de Coimbra em
conjunto com o Centro de Estudos Sociais, foram pioneiros frente a este desafio
de pensar o trabalho, centralidade da sociedade atual, transpondo às teorias
daqueles que o colocava como algo a ser extinto e proclamando o “fim do
trabalho”. No painel composto nesta sessão ouvimos vários atores importantes desta
jornada, entre eles, José António Vieira da Silva, Ministro do Trabalho de Portugal
que afirmou que este país vive um processo de mudanças em virtude da rutura na
inserção económica, que modificou e acentuou as desigualdades. Finalizou
dizendo que vivemos a mais profunda mudança desde a Revolução Industrial que
alterou as relações sociais no que tange a tecnologia da automação e consumo. E
resgatou a espantosa ideia do trabalho humano dispensável e sua substituição
pela tecnologia[3].
Todos ressaltaram que o trabalho não pode
ser mercadoria, entretanto, ninguém vislumbrou qualquer opinião acerca da superação
desta condição inata do trabalho no capital. Reduziram-se ao protocolar, ideias
provocadoras, mas que não servem aos trabalhadores sequer como bandeira de luta
quiçá como análise do trabalho atual.
Vivemos tempos sombrios, entretanto, longe
de fazer uma critica negativa, mas na busca do otimismo da vontade, já que é uma
tarefa honrosa representar os trabalhadores, classe a qual pertenço, celebro
hoje o total desprezo pela política representativa institucional como arma de
mudança. Como socióloga brasileira e parte da geração de 80, àquela que nasceu
do esgotamento do neoliberalismo e cresceu sob a égide do mercado de trabalho
impossibilitada de vislumbrar o trabalho como hipótese de realização pessoal,
sempre esperei muito pouco das Organizações Internacionais, visto que em 100
anos de OIT tivemos grandes mudanças sociais tecnológicas sob bases da
superexploração nunca extintas. É fato também que muitas modificações
sancionadas pela OIT e implementadas nos países, foram produto da luta dos
trabalhadores, nunca uma oferta a esta classe heterogénea. Diferentemente do
que coloca o Relatório (Rider, 2015, 17) quando afirma: “ser a sociedade
reguladora da maneira de organização do trabalho através dos instrumentos
legislativos, acordos celebrados e instituições” a sociedade não regula,
sabe-se que as decisões mais importantes são tomadas por banqueiros,
empresários e tecnocratas.
Ao contrário do que diz o relatório, os
trabalhadores arrancaram seus direitos e estes sempre estão na esfera da
taciturnidade, principalmente nos países salvaguardados na marginalidade da
atual forma de imperialismo. Servos do sistema financeiro, estão subjugados aos
ditames do atual sistema econômico, que, quando da sua queda da taxa de lucros,
fundamenta e legitima a ideação dos “cortes necessários”.
Na Europa assistimos os “pós-graduados”
em subempregos, na América Latina temos a sequencia histórica de golpes coroada
por meio do retrocesso dos direitos que sequer alcançamos. Debilitados, precisamos
recuperar os oxigênios e as respostas não estão prontas e não parecem advir de mais
representatividade. Como presidente o que vi foi uma apatia por parte dos
delegados representantes dos trabalhadores, jovens portugueses e de outras
nacionalidades que vivem as múltiplas formas de informalidade e da falta de
perspetivas. A falta de atuação dos jovens deste Comitê 4, me levou a observar uma
descrença perante o estímulo para a simples reflexão e organização. Esta foi a
primeira sessão, talvez o cenário mude com base no pessimismo da inteligência. Talvez
seja a hora de pensar o mundo novamente, pois ao buscar mecanismos
institucionais representativos para alterá-lo não encontramos nada que nos
represente, a eterna batalha das ideias, como construir uma consciência de luta
em um mundo do trabalho cada vez mais morfológico.
Referências
HOBSBAWM,
Eric J. (2000). Os Trabalhadores: estudos sobre a história do operariado. 2
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
RIDER,
Guy. (2015) O futuro do trabalho,
iniciativa do centenário. Conferência Internacional do Trabalho, 104ª
Sessão, 2015, Relatório I.
Esse texto foi originalmente publicado no dia 22 de novembro de 2016 na página:
[1] http://www.uc.pt/feuc/citcoimbra Consultado
em 22/09/2016
[2] Diretor Geral da OIT
[3] Tal representante do
governo esqueceu-se da impossibilidade desta ocorrência e por alguns instantes
regressei à 1811, rememorei o movimento Ludista quando os trabalhadores eram
contrários aos avanços tecnológicos por acreditarem que as máquinas os
desempregava. Tal como afirma (Hobsbawn 2000, 24), os trabalhadores estavam
preocupados com o desemprego e com o padrão de vida que viviam, em contrapartida
ao aumento da produtividade trazida pela inserção do maquinário, bem como
expansão do comércio e consequentemente do lucro para qual a tecnologia foi e sempre
é empreendida.