Um olhar acido acerca da Educação
Nos últimos dias tenho pensado muito sobre algumas relações
que, até então, eu não havia passado. Falo especificamente sobre a experiência como professor em uma escola privada. Talvez essa angústia - que persiste em ficar - esteja relacionada a um certo idealismo em relação à educação; ou, talvez, aos poucos dias em que eu lecionei naquele lugar. No entanto, pensar desse jeito seria ignorar todas as relações de trabalho que se travam ali.
Em primeiro lugar, a partir do momento em que eu visto um jaleco com o nome da escola, sinto um fragmento da minha liberdade escapando pelas minhas mãos e, o pior, fugindo do meu controle. É extremamente estranho a um profissional da educação ter que vestir "a camisa da empresa", ideia esta fora de lugar em relação ao campo da educação. Em segundo lugar, sinto-me invadido a partir do momento em que o meu trabalho é sempre comparado, ou em vias de ser comparado, ao trabalho do antigo professor e da "matriarca" da escola. Sim, matriarca, caro leitor, pois a diretora lecionava a mesma matéria na qual eu iniciei. Essa extrema relação particular traz consigo a ausência de ética no ambiente de trabalho. As regras, as quais deveriam ser explicadas do ponto de vista formal e impessoal, são transmitidas a partir de exemplos do trabalho alheio (ou do trabalho de outros professores) e de opiniões enviesadas dos alunos. Mas claro que isso não me espanta nem um pouco, pois a pessoalidade é uma das características nacionais que compõem o cotidiano de todos os brasileiros; ela está presente tanto na fronteira desbotada entre o público e o privado quanto nas relações de trabalho, cuja característica básica não é julgar o labor sob o princípio do mérito e da sua formação acadêmica, mas, sim, se o indivíduo atende às vontades e o arbítrio da matriarca da pequena escola.
Todas essas pequenas relações, que talvez o leitor julgue como fúteis e desnecessárias de crítica, são o exemplo concreto do início da perda de autonomia e de liberdade no trabalho. A "proletariazação" do professor aparece como relação cristalizada da perda de autonomia. O conhecimento não é trabalhado livremente e de modo complexo com os alunos. Ele paulatinamente fica restrito com o passar dos anos, atendendo somente as exigências da "empresa". A extrema liberdade na produção do saber não significa que o professor possa ser arbitrário na construção educacional de cada aluno; significa, somente, que o profissional da educação, com toda sua bagagem teórica, possa construir o plano de aulas independentemente do livro didático escolhido pela instituição. O livro didático serviria para ser uma base inicial ao aluno, algo que ele pudesse consultar em casa. Mas em hipótese alguma ser a única ferramenta de acesso à cultura.
O argumento para o uso do livro didático é simples e possui um caráter utilitarista: os pais pagaram pelo livro, portanto, use-o. Não existe uma concepção educacional por trás do uso, muito menos de mediação do conteúdo das humanidades para o ensino médio. Esse último fator, torna-se secundário na formação daqueles adolescentes. Mediação, o que significa isso mesmo? Creio que esse é o pensamento da direção e de alguns professores.
Por falar no corpo docente, ele é a tipificação da classe média ou do cidadão médio que atua na educação: sente-se superior em relação aos professores da rede pública, mas não reflete sobre a sua condição de proletário em uma instituição privada de ensino, tão pequena quanto a mentalidade dos mesmos. Outro aspecto relevante: submetem-se à direção sem pestanejar, pois a sobrevivência da sua vida material depende do seu emprego medíocre. Mas mesmo assim, continuam a perpetuar e exalar sua arrogância. Uma coisa é certa: os corpos dialogam; eles exprimem determinadas características de classe. Tais características ganham, certas vezes, formas abomináveis.
Talvez esse tipo de professorado represente essa aberração social do século XXI: o cidadão médio que não reconhece a sua própria mediocridade e não percebe que todos nós estamos submersos na merda, somente com o nariz para fora, na esperança de respirarmos ares melhores antes de nos afogarmos de vez.
Caio Santos
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