terça-feira, 18 de junho de 2024

a necessidade de esperança e a luta por mudanças na América Latina


Quando lembramos do enterro de Getúlio Vargas, aquela multidão de pessoas querendo tocar no caixão (sim, temos história e ela segue se repetindo como tragédia/farsa), entendemos parte da necessidade de ter esperança em algo que altere minimamente nossa vida pautada no trabalho e no presentismo.

Aqui, não estou discutindo as políticas do “Getulismo” — podemos fazer isso em outro momento — mas sim o que essas lideranças representam para o povo. Meus pais, por exemplo, chamavam Vargas de "pai dos pobres". Isto não é uma especificidade nossa; todos os países da América Latina tiveram o seu "salvador".

A figura do salvador na América Latina reflete nossa dependência econômica, a forma como sofremos na sobrevivência, e a necessidade de ter um "alento". E SIM, eu estou comemorando também — ninguém vai tirar isso de mim. Porém, é importante lembrar que, historicamente, todas as figuras personificadas na liderança vieram como tentativas de criar consenso, ou seja, abafar o grito desesperado de um povo em crise que poderia ser sujeito, mas que, sem forças, coloca em alguém (outro) seus anseios.

Vargas no Brasil e Perón na Argentina, por exemplo, implementaram uma série de regulamentações trabalhistas como mecanismos de contenção dos trabalhadores. Essas regulamentações obviamente ajudaram o trabalhador, mas acabaram por abafar suas lutas, dando como vitória somente a legislação. O chamado progressismo da última década também surge nesse ideário. A população, descontente com as reformas neoliberais impostas, segue sofrendo e busca uma alternativa desesperada. Assim, muitos governos ditos de esquerda ganham as eleições em vários países.

Todos esses governos implementaram políticas voltadas à transferência de renda às famílias, com base nos objetivos de desenvolvimento do Milênio e no cumprimento de uma das sanções da Organização das Nações Unidas iniciada no ano de 2000, para erradicação da pobreza como item prioritário. SIM! Importa diminuir a pobreza, porém precisamos avançar na questão central, que não é apenas redistribuição de renda, mas sim, o que gera a vergonhosa pobreza.

Nenhum dos governos progressistas na América Latina, respeitada a importância de suas reformas, conseguiu qualquer controle ou reversão do capital financeiro, principalmente sob a égide da marcha célere imperial hegemônica. Ao contrário, fomos parceiros na nossa condição de subalternidade, na nossa posição mais ou menos crítica, mais ou menos de esquerda. Sabemos que a história não dá passos atrás — "el pasado no volverá". Só para dizer que precisamos criar um estatuto nacional autêntico.

Este pequeno texto abre espaço para uma série de outras reflexões, mas não podemos abandonar a luta por um novo ser humano, na sociedade que queremos e que deixaremos. Entender a especificidade da situação latino-americana e os nossos problemas não é uma tarefa simples. E me recuso a acreditar que estamos condenados. Quando as cortinas se levantam, percebemos como os fios da trama estavam sendo tecidos. Aproveitemos este momento. O que definirá as mudanças é nosso amadurecimento daqui para frente. 

Perdoem a vulgarização dos conceitos.

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