Num ato de lucidez um amigo Paulo Alves Lima redigiu uma mensagem de ano novo
Não será demais
afirmar estarmos todos de ressaca após a turbulência destes dois últimos anos.
Assistimos, mais uma vez, impotentes, o alçar voo dos predadores unidos. Mais
uma vez fomos espancados em atos e palavras pelo estado e suas instituições
jurídicas, políticas e policiais, assim como por catadupas de abaixo assinados de
sindicatos e associações de capitalistas a estampar a indissolúvel unidade dos
donos do capital em todas as mídias.
O frágil do
equilíbrio político foi destruído por seus próprios e gabaritados predadores em
ambos os pilares de sua sustentação. Predação essa que respondia à nova
ofensiva revolucionária da contrarrevolução. A frágil teoria das oposições
liberais caiu por terra diante da implacável luta de classes. Os
revolucionários anti-capital, em sua insignificância fragmentada, assistimos
atônitos ao alastrar-se da estupidez violenta e boçal a prometer perseguições,
revanche e morte, supostamente enterradas.
Aos desavisados
pareceu tais fatos renascerem das sombras, porém o certo é que a
contrarrevolução jamais havia sido derrotada e, pior, prosseguia sua marcha
através da democracia política por ela desde sempre controlada.
Completar-se-ão,
a partir da eleição democrática do candidato da ultradireita, os supremos
objetivos da contrarrevolução de 1964. Os neoliberais sociais nada mais
ofereceram contra a revolução na contrarrevolução do que acompanhá-la na mesma
estrada derrotada, depois de aceitarem o cativeiro de sua figura máxima.
Empurraram seu tanto a emancipação social dos trabalhadores e da nação, mas
aceitaram a forma legal do golpe e o indiciamento sem provas de seu líder
máximo. Não se sublevaram contra o estado de exceção.
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Fonte - http://latitudeslatinas.com/assista-a-animacao-sobre-a-revolucao-haitiana/ |
A revolução na
contrarrevolução, ao que tudo indica, não passa de ser um movimento dos
temerosos com o fim do capitalismo, temerosos à liberdade. Afinal, o seu campo
histórico está em franco retrocesso. OS EUA perdem hegemonia, a Igreja Católica
não mais se curva automaticamente à política externa imperialista, o campo
mundial das liberdades não para de se expandir, apesar da contrarrevolução
mundial e regional ainda ser forte em torno dos apetites das multinacionais. Daí
a contrarrevolução mundial, no campo ocidental, haver criado um campo religioso
adequado aos seus desígnios reacionários, o neopentecostalismo de resultados,
pró-capitalista e neocolonial. Ao que tudo indica, os tempos vindouros serão de
reação da ultradireita à catástrofe capitalista. Ao proceder ao desmanche do
estado nacional, em aras do alinhamento o maior possível com a potência
decadente, a ultradireita cava um futuro de não retorno, prepara a revolução
democrática de amanhã.
O retorno da
independência ao seu estágio mais neocolonial que jamais, indica que a
república forjada pela contrarrevolução de 64 alcançou o seu limite histórico.
A luta por uma nova república será a luta por uma nova independência, desta vez
a exigir caráter popular e anticapitalista. A revolução bolsonária não passa de
ser um uivo irracional desde o coração da impotência subordinada, em trânsito
neocolonial expandido, a expressar uma nova e impossível via de salvação do
capitalismo da miséria. Seu tom dramático e patético expressa o desespero
diante da inviabilidade de uma sociedade fadada a produzir e reproduzir sua
miserabilidade, expressa o desejo impotente de espantar os fantasmas que a
assediam, por via ideológica irracional. Como um curandeiro a ousar
pateticamente substituir a ciência para salvar um paciente incurável.
Mais do que
nunca devemos prosseguir nosso caminho de educação dos trabalhadores, de
produção teórica corajosa e de forjar a unidade do campo emancipador, com todos
os seus matizes. Nossa capacidade de produzir unidade estará à prova, ou seja,
nossas habilidades diplomáticas, além das teóricas, serão vitais para nossa
existência enquanto organização. Estas serão as nossas tarefas para os tempos
vindouros. Espero que as abracemos com presteza, força e coragem.
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