A triste manhã do dia 06 de junho nos deixou uma inspiração para seguir combatendo as injustiças. O conhecido padre ativista de esquerda belga François Houtart faleceu em Quito, Equador. O homem que carregava importantes títulos: Professor Emérito da Universidade Católica de Louvain, diretor do Centro Tricontinental, secretário executivo do Fórum Mundial de Alternativas, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial de Porto Alegre e Presidente da Liga Internacional pelo Direito e a Liberdade dos Povos. O sacerdote admitia que o mais importante era falar dos seres humanos. Assumidamente marxista, nos deixou um legado de reflexões críticas importantes, de alguém que neste mundo se manteve lúcido, não caiu nos arrivismos, tampouco nos ataques contra o seu sacerdócio um pouco fora do eixo para o conservadorismo cristão. Quem dera a igreja assumisse em práxis aquilo que apregoa em palavras, podiam aprender com o sacerdócio de François Houtart.
Incansável diante da luta contra a pobreza, deixa para mim um significado especial, uma vez que, como moradora da Cidade São Jorge em Santo André e estudiosa do Equador, um dia resolvi escrever a ele, porque imaginei que, sendo padre, talvez tivesse um pouco mais de fraternidade com alguém que queria estudar com afinco, mas não tinha os ‘apadrinhamentos’ e ferramentas do ‘academicismo burguês’ para saltar sua própria realidade. Eis que o Houtart responde e, desde então, se tornou um amigo. Leu meu último texto em março de 2017 e deu seus palpites, sempre a me estimular na continuidade da crítica radical. Sua morte me entristece especialmente; por outro lado, nos deixa um exemplo de quem entendeu o marxismo em sua profundidade, não apenas em suas teorias e ativismos, mas principalmente em uma luta que começa no cotidiano e na nossa forma de agir com o outro.
Ao olharmos sua página de textos, vimos que publicou até 29.05.2017, teve uma vida dedicada até os últimos dias de sua vida à militância. O texto intitulado “A Venezuela de hoy y de mañana” finaliza com um chamado a ultrapassarmos as nomenclaturas dadas pela esquerda que se nega a admitir que só uma Revolução Social como pano de fundo pode transformar a sociedade. Mudam-se os nomes, agora temos uma visão holística e importante do mundo, mas que por vezes nos afasta do objetivo da luta, que é a morte do capital. Assim Houtart finaliza seu texto dizendo:
“Es lo que podemos llamar el Bien Común de la Humanidad o el Ecosocialismo o de cualquier otro nombre que permite sintetizar el contenido. La conquista de esta meta exige transiciones que tomarán tiempo y que precisamente gobiernos de cambio tienen que definir, cada uno en sus fronteras.”
Referência:
Houtart, François. (2017). A Venezuela de hoy y de mañana. In http://rebelion.org/noticia.php?id=227209